quarta-feira, 27 de agosto de 2014

CONTO DE ARTIMANHA OU ESPERTEZA - O DONO DA BOLA



  
O DONO DA BOLA

      Caloca é um amigo legal. Mas nem sempre 

ele foi assim, não.

 Antigamente ele era o menino mais enjoado de 

toda  a rua.
E não se chamava Caloca. O nome dele era 

Carlos Alberto.

   E sabem por que ele era assim tão  enjoado?

 Eu não tenho certeza , mas acho que porque 

ele é o dono da bola.

   Caloca morava na casa mais bonita da nossa rua.

 Os brinquedos que Caloca tinha, vocês não 

podem imaginar.

  Caloca só não  tinha amigos.

Porque ele brigava com todo o  mundo.

Não deixava ninguém brincar com os brinquedos

dele.

Mas futebol ele tinha que jogar com a gente, 

porque futebol não se pode jogar sozinho.

   O nosso time estava cheio de amigos .O 

que nós não tínhamos era bola de futebol.Só 

bola de meia, mas não é a mesma coisa. Bom 

mesmo é bola como a de Caloca.

 Mas, toda a vez que a gente ia jogar 

bola com Caloca, acontecia à mesma coisa, só o

juiz marcar qualquer falta do Caloca que ele 

gritava logo:

            -Assim eu não jogo mais ! Dá aqui 

minha bola!

            -Ah, Caloca, não vá embora, tenha 

espírito esportivo, jogo é jogo...

            -Espírito esportivo, nada! Berrava 

Caloca. -E não me chame de Caloca, meu nome 

é Carlos Alberto!

            E, assim, Carlos Alberto acabava com 

todo que era jogo.

            Todas as vezes que o Carlos Alberto 

fazia isso, ele acabava voltando e dando um 

jeitinho de entrar no time de novo. Mas,daquela 

vez, nós estávamos por aqui com ele. A primeira

vez que ele veio ver os treinos , ninguém ligou.

            Um dia , nós ouvimos dizer que o  

Carlos Alberto estava jogando no time do “ Faz – 
de Conta”, que é um time lá da rua de cima.Mas 

foi por pouco tempo.A primeira vez que ele quis

 carregar a bola no melhor do jogo, como fazia 

conosco, se deu muito mal... O time do  “Faz –

de –Conta”correu atrás dele e ele só não 

apanhou porque se escondeu na casa do Batata.

            Aí o Carlos Alberto resolveu jogar a bola

 sozinho. A gente passava pela casa dele e 

via.Ele batia  bola com a parede. Acho que a 

parede era o único amigo que ele tinha. Mas eu 

acho que jogar com a parede não deve ser 

muito divertido que depois de três dias , o 

Carlos Alberto não aguentou mais, apareceu lá 

no campinho, mas não houve acerto...

            E Carlos Alberto continuou sozinho. Mas 

eu acho que ele já não estava aguentando de 

estar sempre sozinho.

            Na quarta- feira, mais ou menos no 

terceiro treino, lá veio ele com a bola debaixo do

braço.

            -Oi ,turma, que tal jogar com uma bola 

de verdade?

            Nós estávamos loucos para jogar com a 

bola dele. Mas não podíamos dar o braço a 

torcer.

    - Olha, Carlos Alberto, você apareça em 

outra hora. Agora nós precisamos treinar-disse 

Catapimba.

     -Mas eu quero dar a bola ao time. De 

verdade!

       Nós todos estávamos espantados:

       -E você nunca mais pode levar embora?

       - E o que você quer em troca?

       -Eu só quero jogar com vocês...

       -Viva o Carlos Alberto!

       -Viva!

       Então o Carlos Alberto gritou:

       -Ei, pessoal, não me chamem de Carlos 

Alberto! Podem me chamar de Caloca!

(Rocha, Ruth In: Marcelo, Marmelo, Martelo e 

outras histórias.Rio de Janeiro: 


Salamandra,1976)

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