"Paulo Sesar Pimentel"
Antes de mais nada, não. Calma, eu explico esse não. Quero dizer que o carnaval no Brasil nunca foi um problema. Continua não sendo. O carnaval é apenas (apenas?) a prova de que a cultura popular é tão rica que pode chegar ao status de maior festa do mundo. E olha que, há menos de cem anos, o samba era proibido. Hoje é cultura. E o melhor, cultura popular brasileira, ou seja, mestiça, misturada, colorida, feliz, rica, riquíssima. É isso, e ponto.
Ah, mas o carnaval é o responsável por um aumento substancial do consumo de drogas, álcool (e álcool não é droga também?), pelo aumento de acidentes... ei, calma lá. Acidentes ocorrem no ano inteiro, consumo de drogas também. O problema não é a festa, são os convidados. Pessoas que bebem demais no carnaval, bebem demais o ano inteiro. Pessoas que dirigem feito loucos, dirigem feito loucos o ano inteiro.
Ah, mas e a questão das DST’s e Aids? Infelizmente, não tenho um estudo sobre isso. Nem sei se ele seria possível, mas, ao analisar a política de prevenção na época do carnaval, imagino que riscos maiores existam nos fins de semana, nos quais a população está menos atenta. Não coloquemos na peça a culpa que deve recair sobre os atores. À exceção de adolescentes, que piram mesmo, eu nunca vi as pessoas dizerem: “Não vou beber até cair, nem dirigir feito louco, nem transar feito um ator pornô iniciante e inconsequente, porque estou esperando o carnaval para fazer isso!”
Ah, mas as pessoas deveriam trabalhar nesses cinco dias. Ora, ora, não julgue o mundo por você. Se você está parado em casa, ou sapecando na avenida, não se esqueça dos milhares que estão trabalhando, e muito, pela sua diversão, pelo seu descanso. Apenas relaxe e aproveite, porque virão duras semanas pela frente. Pense também que os outros, que estão trabalhando, inclusive, num trabalho informal, num subemprego, que foi o que a sociedade, nos outros dias do ano, destinou a eles,tem nesse único momento a possibilidade de ganhar algum dinheiro. Os demais, pulam ou optam por ficar em casa, o que também não necessariamente é descanso. Não nos esqueçamos daquelas atividades extras que acumulamos e precisamos pôr em dia, em cinco dias de folia de tarefa de casa.
Por fim, pensemos que, durante cinco dias, as pessoas podem extravasar emoções e viver uma grande, multicolor e bela fantasia. Esse é o problema do Brasil? Não, o problema é as pessoas não ficarem, nos outros 360 dias (ou 361, ano bissexto!), atentas aos seus vereadores, prefeitos, deputados (estaduais e federais, ainda bem que não existem deputados internacionais ou interplanetários. Ah, mas existe o FMI!), senadores, governadores e presidente. Opa, já ia me esquecendo, atentos também ao Supremo Tribunal, que mesmo não sendo eleito, governa nossas vidas.
Não, não pulo carnaval. Mas sou parte da plateia durante a festa. No restante do ano, tenho que sambar na avenida da vida cidadã, e danço pra ser comissão de frente, num samba-enredo de igualdade e justiça. Te convido para compor essa escola durante os 360 dias. É cansativo, mas, afinal, viver no carnaval desse país é mais importante que morrer no país do carnaval. Afinal, se não gostamos da música que o país toca, quem, se não nós, pode trocar o CD?
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